i can’t stay (but i wish i could)

Maura Prada
1 min readNov 1, 2022

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A estrada das curvas onde erramos o caminho e a temperatura do rio escuro ficam grudadas na pele com as mordidas que cravamos e com a marca que faz a meia luz na parede: o quarto laranja e a terceira descida depois da ponte. Mas talvez pelo peso que carrego comigo — a faca antiquíssima no coração — ou pelo silêncio com que cobres as tuas distâncias, o meu estômago não aguenta. Os meus me dizem, do lado de cá, que insisto no erro porque não quero ver. Não é verdade. Sou teimosa e conheço bem a terra e o cimento, nasci coberta e já não sei ser livre. Mas te vejo. Nado muito nas correntes dos mares e esbarro com frequência nos meus delírios, é verdade. Mas te vejo. O que acontece, tigre de papel, é que o seu corpo desacordado no sofá e a falta de constância na chama dos teus afetos me lembram a rua das nectarinas onde não quero mais pisar. A queda que sofri do outro lado do horizonte me fez prometer que nunca mais, nem pelo mais doce dos olhares, eu subiria de novo a ladeira de pedras. E disso, nem as tuas costas nuas me convencem. Fico com a margem da imaginação e aceito contrariada o limite. Partirei em breve e quando for não volto.

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Maura Prada

o erro como caminho a verdade como escudo (@mauraprad)